O Nascimento de Sri Ganesha
Reflexões Gnósticas sobre o Ganesha Chaturthi
Ganesha é o senhor dos obstáculos e pode nos ajudar a ultrapassá-los ou pode dificultar nosso caminho. Como Senhor que guarda a porta do aposento mais sagrado do Palácio da Deusa ( o Kardias ), é também o guardião dos Mistérios Iniciáticos. JAYA SRI GANESHA !
A tradição hindu possui inúmeras lendas riquíssimas em simbologia esoterico-iniciática e que nos auxiliam a compreender o caminho da iniciação nas escolas do Ocidente.
O nascimento de Ganesha é um desses mitos e é motivo de grande festa na Índia, especialmente, no sul do País. O Ganesha Chaturthi ou Vinayak Chaturthi é um festival de 11 dias em comemoração ao nascimento de Sri Ganesha [1].
Conta-se que quando a Deusa Parvatí estava recolhida aos seus aposentos, banhando-se, Shiva, empurrando Nandi, o guardião que vigiava a entrada, adentrou e surpreendeu a deusa, constrangendo-a. Parvatí decidiu, então, criar um servidor imbatível, e, com as raspas de sua pele, fez um rapaz, o homem perfeito.
“Era um belo adolescente, bem proporcionado, grande, vigoroso e bravo. Ela disse-lhe: ‘Você é meu filho e só a mim pertence.’ Ele prometeu obedecê-la em todas as coisas. A deusa, encantada, cobriu-o de carícias e o abraçou. Colocou-o, armado com uma clava, diante de sua porta. Quando Shiva quis entrar, o rapaz impediu-o e, apesar das injunções do deus, não o deixou passar. Shiva, furioso, enviou então seus Ganas, exército de gênios e diabretes, para livrá-lo do importuno. Longas argumentações e intermináveis brigas seguiram-se.
O fiel guardião foi vitorioso…Quando viu o exército dos deuses juntar-se aos ganas para atacar o valente rapaz, a Mãe do mundo delegou dois de seus poderes, ou shaktis, sob a forma de deusas iradas, para ajudar seu filho. Uma dessas deusas, que tinha um aspecto terrível, mantinha-se de pé. Sua boca aberta era grande como a caverna da Montanha negra. A outra tinha aparência do raio e inúmeros braços. Era enorme e terrível, pronta para golpear todos os que se aproximassem. Na batalha, as duas shaktis pegavam com a boca os projéteis lançados pelos deuses e ganas, e lançavam-nos novamente a eles…Quando Vishnu quis atacar o filho da deusa, as duas shaktis integraram-se ao corpo do rapaz e deram-lhe, desse modo, uma força maior. Mesmo o exército dos deuses foi derrotado pelo corajoso rapaz. Finalmente, quando ele estava ocupado no combate a Vishnu, o próprio Shiva, traiçoeiramente, cortou-lhe a cabeça com o tridente.
Ao ver o desgosto da deusa e para acalmá-la, Shiva ordenou imediatamente que fosse substituída a cabeça do jovem pela do primeiro ser vivo encontrado… Foi um elefante, cuja cabeça foi unida ao corpo ressuscitado e, para consolar a deusa, Shiva o nomeou Ganesha, chefe dos Ganas (exércitos celestes).”
(Shiva Purâna, Rudra Samhitâ, caps. 13-18)
Outra versão do mito
O mito sobre Ganesha, conforme está escrito nos Puranas [2], nos conta que Shiva ausentava-se muito de casa e passava longos períodos de retiro nas montanhas. Nessas ocasiões, Parvatí ordenava a um guardião que não permitisse a entrada de ninguém em seu palácio sem sua autorização. Todos os guardiões, entretanto, falharam em seguir a ordem de Parvatí quando se tratava de Shiva querendo entrar em sua própria casa. Parvatí decidiu, então, colocar uma pessoa que obedecesse somente ordens suas e não deixasse nem mesmo Shiva entrar, e criou de sua própria matéria um boneco dando-lhe vida como seu filho, tornando-o seu guardião particular.
Um dia, Shiva em pessoa, voltando do Kailasa nos Himalaias, quis entrar no palácio de Parvatí, enquanto ela se banhava, e o menino impediu Sua passagem. Nenhum argumento foi suficiente para que ele mudasse sua atitude de obediência incondicional a Parvatí. Seguiu-se uma luta feroz entre o exército de Shiva e Ganesha, o qual lutou bravamente contra todos e resistiu durante muito tempo até ter sua cabeça mortalmente separada do tronco pelo trishula de Shiva. Parvatí, ao ver seu filho morto, ameaçou desabar o mundo com sua ira. Shiva, então, apercebendo-se do alcance desse seu ato, arrependeu-se e pediu a Parvatí seu perdão. Ela consentiu em perdoá-lo com a condição de que ele restituísse a vida a seu filho. Shiva, então, deu ordem a seus Ganas que fossem em direção ao norte e trouxessem a cabeça do primeiro ser vivo que encontrassem no caminho. Aconteceu assim que foi um elefante com uma das presas quebradas que eles encontraram. Então Shiva colocou a cabeça desse elefante no corpo do menino e este reviveu, com cabeça de elefante. Shiva reconheceu-o como seu filho, dando-lhe o nome de Ganesha.
Reflexões Gnósticas sobre a simbologia da história de Ganesha
Ganesha, o filho de Parvatí, foi criado pela própria matéria do corpo de sua mãe, a Deusa Mãe do Mundo, ele é símbolo da matéria perecível. É símbolo do ser humano encarnado, do grande guerreiro da “Causa”, do servidor da Deusa. Parvatí cansada de ver os guardiões de seu palácio falharem e permitirem a entrada daqueles que ali não eram esperados cria Ganesha o Guardião Supremo e imbatível. Esse aspecto do mito nos mostra que se queremos ter sucesso no serviço à Grande Causa, devemos ser fiéis e leais à Deusa Mãe e devemos superar todos os demais guardiões ou guerreiros que deixaram entrar pelas portas do sagrado palácio aqueles que ali não deveriam adentrar (elementos psicológicos indesejáveis). O fiel servidor prefere combater o próprio pai do que permitir que o palácio de sua sagrada mãe seja invadido e violado.
É conhecido como Gâjanana – cara de elefante, mas também como Gânapati – o senhor dos gana.
Seu nome deriva da combinação das palavras sânscritas Gana (multidão, exército) e Isha (Senhor) = Ganesha . O Senhor de todos os seres, Senhor dos exércitos. Os ganas ou gunas são as “forças” que determinam a organização da natureza: inércia, ação e equilíbrio (tamas, rajas e sattva). Representa também as três forças da criação: Santo afirmar, Santo negar e Santo Conciliar. Isha significa inteligência, controle. Ganesha, portanto, é aquele que transcendeu à matéria e dirige as forças da natureza. É por isso que Ganesha é, entre outros atributos, o senhor do karma, aquele que controla e dirige a lei de causa e efeito. Por isso também é conhecido como o Deus que remove os obstáculos, considerando-se os obstáculos como tudo que envolve restrições da Lei.
O mito mostra também que ele não conhece o pai (Shiva, o Terceiro Logos, o Espírito Santo). Quando sua mãe e senhora, Parvatí, solicita sua proteção ele a obedece incondicionalmente . Em termos da sabedoria esotérica, o bom guerreiro é aquele fiel, leal à sua Divina Mãe, aquele que a serve e é capaz de dar até a última gota de seu sangue por ela. Assim vemos também em outros mitos a presença sempre marcante do guerreiro e fiel servidor da Mãe Divina ou do Casal Divino, como Hanuman, o Deus Macaco do Épico Ramayana.
Quando seu pai retorna, Ganesha luta com ele e com os deuses, não o reconhece. Ganesha luta com bravura, para cumprir o seu dever. Cumpre a vontade de sua mãe, representação viva da Lei. A Divina mãe é aquele que tem o poder de dar a seus filhos alegrias ou tristezas, amizades ou inimizades…
O pai admira a coragem do filho-guerreiro, mas lhe é anterior na Criação, ocupa a esfera mais elevada da Árvore da Vida. Por isso, Ganesha não poderá vencê-lo e com sua trishula (arma poderosa que representa a trindade), o Pai corta sua cabeça e ele morre para o mundo da matéria. É o momento em que o Iniciado morre para o mundo dos homens, para a vida da carne e se volta aos mundos internos.
Algo muito parecido com o que acontece o Mestre Samael Aun Weor descreve dos processos iniciáticos ao final da Segunda Iniciação de Mistérios Maiores, o iniciado perde sua cabeça, morte também esotericamente simbolizada pela decapitação de João Batista. É o momento em que o Iniciado morre para o mundo dos homens, para a vida da carne e se volta aos mundos internos.
Parvatí, sofre ao ver sofrer seu filho e lamenta a sua morte (como Maria lamentou por Jesus e Ísis por Osíris-Hórus) e exige que seu filho retorne ao seu convívio e seja reverenciado sempre no início de qualquer ritual e cerimônia aos Deuses, antes que qualquer empreendimento se realize, simbolizando que devemos sempre nos lembrar desse caminho percorrido pelo fiel servidor para se chegar à Casa do Pai, lembremos neste ponto que é a Divina Mãe que prepara o filho para ir ao encontro do Pai. A Primeira Montanha iniciática é a Montanha da Mãe! Maha Devi Kundalini!
Shiva, o Espírito Santo, dá ao filho uma nova cabeça, faz renascer o filho por suas mãos de Pai, renascer pelo Espírito Santo. Trata-se do nascimento espiritual de Sri Ganesha, momento em que ele se torna o Filho do Espírito Santo. Trata-se do renascimento narrado pelo Mestre Samael Aun Weor na Terceira Iniciação de Mistérios Maiores, quando após vencer a sua condição de escravo do mundo, o iniciado enfrenta as duras provas da paixão, representada pela travessia do Mar Vermelho e vence os exércitos inimigos, alcançando o direito de descer aos seus infernos atômicos para remover as máculas do corpo astral e receber ao final o Espírito Santo, que desce sobre sua cabeça como a Santa Pomba de Alva Plumagem.
Simbolicamente o elefante demonstra o caminho da evolução do homem na busca da espiritualidade e da imortalidade, o caminho da iniciação.
Sua tromba representa a ponte entre o mundo material e o espiritual ou transcendental, com a tromba o elefante separa o sutil do grosseiro, ele pode arrancar árvores ou pegar pequenos objetos, em sua tromba está representada a Serpente de Fogo da Terceira Iniciação de Mistérios Maiores, a Serpente que mergulha ao coração.
Sri Ganesha é a representação vívida do corpo astral superior. Representa todo o sistema de chakras, nadis, talas… É o filho de Devi Kundalini.
Na Terceira Iniciação de Mistérios Maiores a serpente sobe pela coluna do iniciado e pela primeira vez faz o mergulho ao seu coração. O iniciado deve passar por inúmeras purificações para abrir a ponte, a passagem secreta que leva ao Templo coração, através de nadis especiais – passagens extremamente sutis e secretas – que se acham bloqueadas nos seres humanos que ainda não “perderam suas cabeças pelos deuses”! Aqueles que ainda não voltaram seu coração ao Altíssimo Senhor nosso Pai! Através de duras provas no decorrer da Terceira Iniciação, o iniciado é purificado e recebe a chave dessa ponte. A descida de Devi Kundalini ao Kardias é também simbolizada pela serpente que Moisés, por ordem de Deus, toma às mãos e se transforma em cajado com a ponta curva.
Suas orelhas grandes representam a capacidade de escutar o conhecimento, condição básica de um sábio. Representam também as linhas de força do campo eletromagnético do coração [3]. Assemelham-se também à cobra Naja com seu pescoço dilatado, remissão ao Uraéus egípcio como se vê nas imagens das máscaras dos faraós, que lembram em muito o Sr. Ganesha com suas orelhas e trombas e podem até mesmo ser consideradas como as asas de Ísis abertas no caduceu de mercúrio.
A barriga grande indica que Ganesha já digeriu o conhecimento e os obstáculos. Por isso ele é conhecido como o removedor de obstáculos.
Ele também tem sempre um dos pés levantados e o outro no chão, pois ao sábio é necessária a elevação, mas sem perder a humanidade. Aos seus pés sempre há um rato, símbolo de descontrole e da voracidade, que muitas vezes lhe serve de montaria, significando a capacidade do homem de dominar seus desejos, pois o verdadeiro sábio também tem desejos, porém eles estão sob seu controle. O rato como veículo de Ganesha demonstra ainda sua capacidade de adentrar ao mundo inferior e ao mundo da matéria.
A machadinha de Sri Ganesha em suas mãos pois simboliza não só o desapego, mas também o aspecto dos dois fios cortantes da via reta. O poder mágico transcendente de manter o equilíbrio no centro e a capacidade de fazer justiça, de remover os obstáculos. Afinal, Ganesha é a representação viva do Guerreiro Justo, filho de Shiva (representante da destruição e da regeneração na trindade hindu) e irmão de Kartikea (semi-deus da guerra).
Sri Ganesha e o Casamento
Ganesha é o senhor dos obstáculos e pode nos ajudar a ultrapassá-los ou pode dificultar nosso caminho. Como Senhor que guarda a porta do aposento mais sagrado do Palácio da Deusa (o Kardias, onde mora a Deusa Mãe dentro de nós), é também o guardião dos Mistérios Iniciáticos. É o Senhor que permite a entrada pela porta estreita que leva às câmaras sagradas do Templo Coração onde habita a deusa Kakini. É o Senhor que nos guia pelos nadis existentes em nosso corpo, conduz-nos às passagens ocultas por onde passa Devi Kundalini.
JAYA SRI GANESHA! GANAPATIE NAMAHA!
[1] | Comemora-se o Ganesha Chaturthi, festival em homenagem ao nascimento de Ganesha, a partir quarto dia após a lua nova no mês hindu de Bhadrapada (agosto ou setembro de cada ano). É comumente celebrada para os seguintes 11 dias, com o maior espetáculo a ter lugar no último dia chamado Ananta Chaturdasi.Em 2011 , Ganesh Chaturthi é em 1 de setembro (Ananta Chaturdasi em 12 de setembro). Em 2012 , Ganesh Chaturthi é em 19 de setembro (Ananta Chaturdasi em 30 de setembro). Em 2013 , Ganesh Chaturthi é em 9 de setembro (Ananta Chaturdasi em 20 de setembro). |
[2] | Os Puránas (as Antigas Crônicas) são textos longos, semelhantes à Bíblia, nos quais foram transcritas e resumidas traduções orais que remontam a um período longínquo. Remontam, às vezes, até ao sexto milênio a. C., relatos mitológicos, ensinamentos rituais ou técnicos (medicina, arquitectura, pintura, música, dança, etc.) ensinamentos filosóficos, códigos sociais e morais. Formam verdadeiras enciclopédias.» in Danielou, Shiva e Dionoso, p. 33. |
[3] | Todos os órgãos do corpo humano emitem campos eletromagnéticos, curiosamente, o coração é o que emite o maior campo. As linhas de força do campo eletromagnético formam desenhos similares ao sistema de nadis e chakras da bioenergética (vide imagens.) |
Bibliografia: WEOR, Samael Aun. As Três Montanhas. Curitiba: IGB Editora, 2009.
Fontes de pesquisa:
ANTUNES, Renato. “Ganesha o Deus do Conhecimento” in http://www.ganesha.jor.br/index.php/artganesha/1-artganesha/81-ganesha-o-deus-do-conhecimento
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