Karma Yoga
O CAMINHO DO RETO AGIR
Há tempos nos havíamos comprometido a detalhar um pouco mais a questão do Karma Yoga… Quando empregamos a expressão Karma Yoga, essa é a forma conhecida aqui no Ocidente…
O Karma Yoga foi ensinado por Vivekananda, um sábio hindu que viveu entre 1863 a 1902, e foi discípulo de Ramakrishna. Como discípulo de Ramakrishna, introduziu essas idéias aqui no Ocidente, no começo do século XX; portanto, não são idéias novas.
O próprio Mestre Samael menciona algumas vezes a importância do Karma Yoga, mas como isso é mencionado poucas vezes, na prática ocorreu que os estudantes e instrutores de gnose, acabamos não dando tanto valor e importância, mas particularmente acabamos, por circunstâncias várias, descobrindo o quanto o Karma Yoga é importante em nossa vida.
O Karma Yoga vem a ser uma forma prática e concreta de se praticar a Gnose. Karma Yoga quer dizer “Yoga da ação reta”.
Como vivemos em um mundo agitado, onde muitos alegam não ter tempo para se recolher, fazer práticas, então, na realidade, o desafio que temos aqui é fazer práticas enquanto tocamos a vida normalmente. É justamente isso o que oferece o Karma Yoga.
Quando nascemos conscientes ou inconscientes, trazemos um objetivo, uma meta ou missão de vida, que podemos traduzir como um ideal de vida. Nascemos para quê?
O Karma Yoga permite fazer a integração entre o ser humano com o seu ideal de vida. Permite integrar as atividades materiais com as espirituais, enquanto a vida segue seu curso normal, enquanto desempenhamos as atividades que assumimos perante o mundo, a sociedade e a família.
A grande tarefa que nos é dada, quando atingimos a idade adulta, é transformar o ideal espiritual em fatos concretos. São Paulo dizia que “… a fé sem obras é morta…”; assim não adianta dizermos que somos cristãos, budistas ou gnósticos, se nada fazemos de concreto, ficando apenas no ideal, no pensamento ou projeção.
O que precisamos fazer é transformar essa fé em algo concreto, em fatos. Todos sabemos que os místicos sempre foram vistos como sonhadores ou até mesmo como lunáticos, como seres abstratos ou indiferentes, alheios às coisas do mundo. Pelo menos essa é a idéia que o comum das pessoas fazem acerca dos místicos.
E justamente esses que vêem os místicos como alheio às coisas do mundo, julgam-se indivíduos práticos, com “pés no chão” e perfeitamente integrados com os deveres sociais ou da vida material. Entretanto, tanto uns quanto outros estão falhando.
Temos que aprender, especialmente no mundo moderno, a caminhar com os dois pés. Esse tem sido sempre o desafio. Como “dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, se geralmente nos tornamos ou escravos de César ou fanáticos seguidores de Deus – pelo menos é assim que o mundo pensa. Essa é a tarefa, meus amigos, integrar as duas coisas.
Karma Yoga é a metodologia para isso. O que significa exatamente Karma Yoga? A palavra Karma vem do sânscrito Kri, que significa “fazer”. Logo, Karma é uma palavra que define os efeitos de nossas ações.
Tudo que fazemos, física ou mentalmente, deixa marcas, efeitos, bons ou maus. Qualquer pensamento nosso produz efeitos à nossa volta, mas não os vemos. No entanto, qualquer pensamento ou sentimento muda a cor de nossa aura. Por exemplo, se tivermos perto de nós um animalzinho sensível, de repente ele foge correndo de nós; isso ocorre porque ele captou, talvez, um sentimento não muito positivo, ou pensamento destrutivo. E ficou com medo, foi buscar proteção longe de nós.
Então, quer pensemos, sintamos ou passemos algo fisicamente aqui, tudo isso provoca efeitos bons ou maus. Logo, tudo gera Karma!
Não fazer algo gera Karma, fazer gera Karma, não temos saída. Alguns dizem que os Gnósticos pensam que Karma é castigo divino; isso é uma idéia totalmente ignorante. Talvez entre essas pessoas há alguém que pense assim. Mas Karma são simplesmente efeitos de qualquer coisa que façamos ou não façamos.
Os budistas usam a expressão “Karma Positivo” ou “Karma Negativo”. Quando algo que fazemos gera efeitos positivos, eles chamam de Karma Positivo. Quando fazemos, sentimos ou pensamos algo negativo, gera-se um Karma Negativo. É assim que eles entendem e definem.
Dentro da gnose a Lei do Karma nada mais é do que a “Lei de Causa e Efeito”, assim sintetiza o Mestre Samael. E quando falamos em termos de Karma sempre volta a pergunta: para que existe o homem ou para que nasceu o homem? No mundo de hoje tudo leva e faz crer que o homem nasce para gozar a vida. Desde pequenos, a mídia que massacra a todos nós, impiedosamente vende uma idéia, projeta uma fantasia, que a vida são prazeres inesgotáveis. É o hedonismo levado ao seu mais exaltado grau…
Porém, meus amigos, o homem não nasceu para o prazer! O homem nasceu para aprender! A vida e este planeta são uma imensa escola. Dessa forma, todos nós estamos aqui para aprender. Nascemos e vivemos para aprender.
Podemos aprender do modo fácil ou do modo complicado e difícil. Dificilmente nós, na condição que hoje estamos, aprendemos da maneira fácil. A maneira fácil de aprendermos hoje seria termos suficiente consciência para ouvir o ensinamento de grandes Mestres como Krishna, Buddha, Jesus ou Samael e, intuitivamente, aceitar esse ensinamento, colocando-o em prática. Assim aprenderíamos pela via não dolorosa. Seria a via inteligente, de bom senso.
Porém, não é assim que acontece: muitos, motivados pela missão de ensinar ou servir, querem colocar “goela abaixo” o ensinamento gnóstico.
O tempo de converter os outros a ferro e fogo, à base da cimitarra, já passou; nós estamos em Aquário. É uma época de grande liberdade de pensamento. Desse modo, qualquer doutrina hoje precisa seguir e possuir esse caráter liberador. É ensinar e deixar o outro livre para aceitar ou não. Passar o conhecimento e esperar que o outro aceite.
Dar o ensinamento, sim! Converter, não! Se quisermos “converter” alguém que façamos – ou que o outro se sinta motivado por nosso exemplo de vida, e não por uma expressão fanática, de verbo ou pregação, como às vezes pode-se ver.
Nascemos para aprender… O que é o homem, além de ser uma criatura feita à imagem e semelhança de Deus, além de estar aqui para aprender? O homem é um centro que atrai para si os poderes do universo, pois ele possui os mesmos valores e potenciais divinos.
Cada um de nós atrai para si os poderes do Universo. Uma vez que esses poderes se reúnam ou se concentrem em nós, os emitimos novamente. Só que isso acontece de uma forma dinâmica; é permanente; não nos damos conta disso: energias vêm, vão, passam por nós e são emitidas novamente.
Por isso é muito importante fazermos consciência das nossas ações. Uma vez que tudo que fazemos, pensamos ou sentimos gera conseqüências boas ou más, tudo se altera a nossa volta em função das nossas ações ou não ações. Porque não fazer também é fazer e podemos, desta forma, distinguir as ações das manifestações da vontade do homem. Por esse ponto entende-se, explica-se, porque o exterior é a projeção do interior.
A cara do Brasil é a nossa cara; não poderia ser diferente. Porque o Brasil somos nós; o Brasil é cada um de nós agrupado e depois projetado para fora de nós. E se nós quisermos conhecer bem, realmente, o caráter de uma pessoa, jamais devemos olhar esta pessoa pelos grandes feitos, ações. Pois nas grandes ações não vamos conseguir perceber bem a ninguém, mas sim podemos avaliar corretamente o caráter de uma pessoa quando ela pratica os atos mais comuns e insignificantes.
Vê-se nisso como se torna importante quando falamos em conduta reta, pois começamos a nos conhecer de verdade quando estamos à vontade, relaxados, fazendo pequenas coisas do dia a dia. E qual é o ambiente mais propício para isso acontecer? É nossa casa, nossa intimidade.
Se queremos conhecer uma pessoa, convivamos com ela debaixo do mesmo teto, durante o tempo que for necessário. E observemos as pequenas coisas como: ver a ordem, educação, comportamento, palavras, gestos ou as inclinações, essas pequenas coisas do dia-a-dia.
Vejamos se deixamos meias ou roupas íntimas no banheiro ou espalhadas pela casa, se deixamos sujeira para a mãe, a mulher, o marido ou o irmão limpar. Nessas pequenas coisas vamos revelando exatamente como somos.
Temos que começar qualquer mudança que queiramos fazer, exatamente pelo menor, que é justamente o que a gente menos dá importância. Temos uma visão equivocada acerca da vida e de nós mesmos, pois achamos e queremos começar o trabalho de mudança sobre nós mesmos a partir das grandes coisas. Temos que começar pelas pequenas coisas…
Se somos solteiros, moramos em casa, república, sozinhos. Nós arrumamos nossa cama todo dia, limpamos nosso quarto, temos ordem e asseio em nossas coisas, nossas roupas estão em ordem, temos cuidados pessoais com o corpo? Temos que começar por essas pequenas coisas.
Fiel no pouco, confiança no muito. Agora, se já quisermos começar por mudar o planeta inteiro, sem que tenhamos mudado a nós mesmos, não sem razão fracassaremos nessa tarefa. Porque o treino, o aprendizado começa nas pequenas coisas.
O pequeno universo somos nós; depois temos um universo familiar; após, vizinhos e colegas de trabalho; bem mais tarde podemos ter um universo social mais amplo, sobre o qual exerceremos alguma liderança ou alguma influência.
Analisemos alguns exemplos de vontade poderosa; pensar, por exemplo, na figura de um Buddha ou Jesus; certamente eles foram homens, seres de uma vontade poderosa, grandes trabalhadores e servidores da humanidade; eram e ainda são almas gigantescas dotadas de uma vontade e capacidade de até mesmo arrancar os mundos de suas órbitas.
Essa vontade poderosa foi adquirida em algumas horas de trabalho? Numa única vida? Ou foram vidas inteiras voltadas para uma meta, guiadas desde o Alto para cumprir uma determinada missão?
Quando buscamos esse caminho, além de nos darmos conta de que tudo que fazemos e não fazemos gera reações e conseqüências à nossa volta, devemos ter, permanentemente, presente diante de nós, nosso ideal de vida. Qual é o foco e a prioridade de nossa vida?
Temos de eleger por vontade própria, depois do exercício soberano da nossa consciência, qual é nossa prioridade, o que queremos e qual é a meta dessa atual existência.
Queremos simplesmente adquirir a casa própria, que é o grande sonho da classe média ou baixa? É para isso que nascemos? Só para comprar a casa própria, ou para ter um carrinho, para almoçar aos domingos fora de casa?
Cada um deve refletir sobre qual é seu ideal de vida e também precisa saber que para atingir o ideal de vida é preciso sacrificar as outras coisas que se interpõem entre você e o ideal de vida ou a missão que você escolheu.
Nem estamos considerando ainda, nessa hipótese, a guia que vem desde o Alto. Nascemos para nos divertir, aproveitar a vida? Para que nascemos?
Certamente a vontade de um Buddha, um Jesus ou de qualquer outro grande líder espiritual, de um Krishna, de um Samael, não foi voltada para isso. Eles escolheram uma meta, e sacrificaram tudo em função desse ideal.
Para que também não tenhamos fantasias, para que não desperdicemos o valioso material psíquico, para que não mal utilizemos nossos centros psicofisiológicos, quanto mais cedo em nossa existência compreendermos ou descobrimos qual é o nosso ideal de vida, para que nascemos e o que buscamos e queremos nessa vida, mais energias teremos para alcançar esse objetivo, essa meta.
Se vamos esperar ficar velhos para começar o caminho, depois vamos descobrir que já não temos tanta saúde, o corpo já não responde adequadamente, até mesmo aos sacrifícios que a própria meta espiritual exige.
Compreender as nossas ações e as conseqüências de nossos atos, isso é fundamental na vida. O Bhagavad-Gita diz claramente (para quem não sabe, o Bhagavad-Gita é o evangelho de Krishna ou ensinamentos de Krishna ao seu discípulo Arjuna, o qual personifica todo estudante que está em busca do seu caminho espiritual ou autorrealização, ou da sua entrega a seu Cristo Interno, entregado amorosamente ao Divino) que a vida resume-se a fazer a vontade de Krishna, devemos executar todo trabalho ou tarefa com habilidade, como se fosse realmente uma ciência.
Não importa se somos lixeiros, vamos ser os melhores lixeiros da cidade, se somos donas de casa, vamos ser as melhores donas de casa do mundo, se sou motorista de ônibus, o que me impede de ser o melhor motorista de minha comunidade?
É tão só uma questão de decisão pessoal, comportamental, uma atitude interna de fazer o trabalho que nos corresponde com amor e habilidade. Se nós amamos o que fazemos, certamente teremos motivação para buscar maneiras distintas de fazer melhor aquilo que já fazemos.
E, aprendendo a desempenhar melhor nosso trabalho, faremos menos esforço. Conseqüentemente, temos mais resultado com menos esforço. E esta ação é nada mais que a exteriorização do poder da vontade, que já existia dentro de nós antes; dentro de nós já existe o poder divino, já existe Deus. Como também existe em nós o conhecimento que está em nosso Ser. O que a nós cabe fazer é acessar esse conhecimento.
Em uma conferência do Mestre Samael soubemos que um senhor, alfaiate, ouviu muito interessado a conferência e ficou um tanto preocupado, pois o Mestre Samael estava falando as mesmas coisas que falamos hoje aqui, só que com outras palavras: dessa entrega ao Ser.
E ele perguntou: “Mestre, eu ganho a vida fazendo calças, ternos, paletós… Como que eu vou ganhar minha vida se eu renunciar a tudo isso?” E o Mestre Samael respondeu para ele: “Meu amigo, esteja seguro que teu Ser tem melhores capacidades de fazer roupas, calças, camisas e paletós, do que as que você faz hoje”.
Nós já temos dentro de nós esse potencial; o que falta então? Falta a ação e, lembre-se, Karma é ação. Karma Yoga é ação positiva. Esses atos nossos funcionam como golpes, pancadas, despertando dentro de nós esses poderes ou conhecimentos.
Aprendemos na Gnose que são as grandes crises que fazem cristalizar a alma em nós. Elas funcionam como marretadas das quais saltam faíscas que são fragmentos de consciência liberada. É assim que se vai cristalizando nossa consciência, nossa alma. Não que tenhamos que sofrer grandes crises, não obrigatoriamente. Sofremos porque desconhecemos outros caminhos.
Na conferência anterior, nessa e na próxima, o objetivo é passar a vocês um ferramental experimentado já por nós, para fazer o trabalho espiritual sem tanta penúria, sofrimento, ou seja: seguiremos vivendo como antes, apenas mudando a atitude. A pergunta que coloco para vocês neste momento, para reflexão, é a seguinte: O que me motiva? O que queremos da vida? Quais são as razões pelas quais estou fazendo hoje o que eu estou fazendo? Meditem sobre isso!
Não quer dizer que tenhamos que largar nossa atual ocupação; não é disso que estamos falando. Por alguma razão, alguns de nós são pedreiros, outros carpinteiros, empresários, funcionários públicos, médicos, músicos. Isso não importa! O importante é dar-se conta, saber por que se está fazendo isso. Depois de refletir, analisar e compreender, examinar consigo mesmo os fatores que impedem seguir trabalhando por amor ao trabalho, não mais como uma obrigação…
Em muitos lugares do mundo as pessoas acreditam, e parece que essa crença é maior aqui no Brasil, que não deveríamos trabalhar, que as coisas deveriam cair do céu, devia chover dinheiro, chover comida, chover mulheres ou príncipes encantados. Que visão torta é essa? Não existe nenhum planeta no Universo em que suas criaturas não trabalhem algumas horas por dia para viver e poder usufruir daquilo que está disponível para a sociedade em seus respectivos mundos.
Alguns trabalham duas horas diárias, outros quatro. Mas todos têm de trabalhar. Só mesmo em uma sociedade anômala e degenerada é que se pensa o contrário… Até as formigas e as abelhas trabalham porque sabem que precisam trabalhar.
Então nós, possuidores de uma faculdade intelectual que permite discernir e compreender devemos buscar dentro de nós o amor ao trabalho; ele existe dentro de nós, está escondido, oculto. Em meditações profundas, em recolhimento, descobrir onde está isso.
Trabalhar por amor ao trabalho e também fazer obras que beneficiem nossos semelhantes… Não devemos agir egoisticamente, pensar em sua conta bancária, em seu bolso, no que vai ter para comer em sua mesa, excluindo os demais. Isso é egoísmo, possessão, amor próprio, autoconsideração, desprezo pelos demais, pelas outras vidas que vivem neste planeta conosco.
Se estamos onde estamos, é porque alguém, antes de nós, fez alguma coisa para estarmos onde estamos, embora disso não tenhamos consciência. A forma de retribuir e colaborar com a Grande Lei é exatamente não se esquecer do semelhante. E fazermos obras que beneficiem nossos semelhantes…
Não podemos fazer do amor, da verdade, do altruísmo, uma simples retórica. Amor, verdade, altruísmo não podem ser só um discurso, apenas uma palavra no dicionário dos outros e não do nosso próprio. Sempre devemos estar atentos aos motivos egoístas quando estamos agindo. Agir e trabalhar, sim, mas sem o egoísmo, sem pensar apenas em si.
Também como elemento de reflexão, queremos colocar para vocês um questionamento muito simples, o qual tem sido apresentado a nós muitas vezes. As pessoas nos perguntam: “se é possível uma pessoa que está habituada ao tumulto da vida moderna, ficar bem ou viver em paz num lugar tranquilo por muito tempo? Ela não sentiria falta da poluição, do barulho, do agito da cidade? Ou também poderia um homem habituado ao silêncio ou a solidão ficar ou viver bem no torvelinho do mundo moderno?”.
São as duas situações extremas, a do santo na cidade e a do homem urbano num mosteiro; entre a cidade e o mosteiro existe um ponto de equilíbrio e cabe a nós encontrá-lo. É claro que estamos falando em linguagem figurada do barulho e da agitação da cidade.
É claro que isso é negativo cem por cento, não deveria haver isso, mas há, então não tem como fugirmos disso hoje. O grande sacrifício do buscador, do Chela, do Lanu, do Adepto, é este. Seguir vivendo na cidade por amor à humanidade…
Ele poderia perfeitamente se recolher num local isolado e viver em paz, mas ele renuncia à paz, ao silêncio, à solidão, para continuar servindo a seus irmãos na vida hostil das grandes cidades; nós temos que buscar o equilíbrio. Justamente o Karma Yoga nos dá as ferramentas para isso.
Qual é o grande ideal do Karma Yoga? É governar a si mesmo, aprender a andar em meio à vida agitada com mente tranqüila e serena. Ter suficiente domínio de si a ponto de poder viver tanto no agito da cidade, quanto num local isolado e tranqüilo, com a mente tranqüila e serena. Esse é o ideal do Karma Yoga, isto é um estado de espírito que nós precisamos construir e conquistar dentro de nós. Isso não “cai do céu”! Precisamos conquistar o grau de mente tranqüila e serena.
Para isso muito trabalho nos é exigido, ninguém vai fazer isso em um ou dois anos, especialmente se fizer cinco minutos de práticas por dia achando que vai a algum lugar desta maneira. É evidente que não.
Porém, ele pode aproveitar cada momento para fazer suas práticas internas sem que ninguém saiba que está praticando o Bhakti Yoga enquanto encontra-se no meio do bulício da cidade. E sempre que puder vá para um refúgio junto à Mãe Natureza, tire os sapatos, coloque os pés no chão, ande no riacho, pise nas pedras para massagear os pontos energéticos da sola do pé, enquanto esses centros são limpos e purificados pela água pura, onde vivem os elementais das águas.
Todos nós que nos lançamos nesse caminho, no principio não temos alternativa, a não ser aceitar os trabalhos e os acontecimentos tais quais eles nos chegam.
Devemos ter a atitude de buscar compreender as causas desses acontecimentos em relação a nossa vida. E com o tempo vamos nos tornando mais conscientes de nós mesmos, das coisas que acontecem a nossa volta. E, conseqüentemente, compreendendo isso, nós podemos tornar-nos mais altruístas, mais amorosos com as pessoas, com o ambiente e com aquilo que a vida nos dá.
Agir sem se apegar à ação e aos frutos dessa ação – assim estaremos plasmando o ideal do Karma Yoga em nós. No começo pode parecer difícil, uma coisa distante, mas à medida que vamos escalando a montanha, vemos que não é tão difícil assim de escalar. Mas é preciso escalar a montanha.
Se ficarmos ao pé da montanha chorando, olhando para o alto, vendo os outros subirem lentamente, é claro que nunca chegaremos ao topo. Porque temos uma atitude derrotista, pessimista. Nós temos que transpor as muralhas, os obstáculos e isso é esforço nosso, ninguém pode fazer essa tarefa por nós.
No caminho espiritual não existem helicópteros, temos que escalar a montanha, conquistar essas coisas. A vida já nos dá as ferramentas para isso. A Providência Divina enviou homens sábios que nos mostraram o caminho, que vieram abrir o caminho. Agora, já temos o caminho aberto e descortinado diante de nós.
Cabe a nós caminhar com nossas pernas, já que ninguém nos arrastará ou nos dará carona, nem nos levará nas costas. Na Loja Branca cada um faz suas coisas, caminha por si só. Existem solidariedade, aplauso, o incentivo, o apoio, mas cada qual precisa caminhar com suas pernas.
Dentro do Karma Yoga, a idéia central dessa forma de viver é renunciar ao que se tem. O Mestre Samael já mencionou isso. Mas, igualmente, Samael menciona que podemos renunciar a muitas coisas, porém é muito difícil renunciar ao nosso sofrimento.
O mendigo não pode renunciar à riqueza… O mendigo, para crescer espiritualmente, precisa renunciar à pobreza. O rico sim precisa renunciar à riqueza. Buddha renunciou ao palácio. Então temos que renunciar ao que temos…
Se temos muitos valores negativos, incorreções, pensamentos equivocados, conceitos errados, é evidente que temos que começar a renunciar a isso. Temos que ir renunciando à medida que vamos compreendendo aquilo que temos.
Parece estranho acreditar que um mendigo ame a pobreza ou a miséria, mas, falando psicologicamente, o mendigo é mendigo porque em um momento qualquer de suas existências passou a amar a miséria interna. E se tornou miserável.
Se quisermos alcançar a divindade, temos que nos entregar e amar a divindade. Anelar a riqueza do espírito, lutar para conquistar aquilo que não temos.
Se somos miseráveis, pobres, mendigos temos que trabalhar para alcançar a riqueza, sem se apegar à riqueza e aos frutos da riqueza, eis o desafio! Porque a virtude da não resistência só nasce depois de termos aprendido a resistir às coisas. Parece incongruente, mas é assim!
O conhecimento espiritual é o único que pode destruir nossas misérias para sempre. Isso se aplica à questão da caridade. Nós podemos ajudar uma pessoa dando um prato de comida; isso resolve o problema da fome por algumas horas. Nós podemos ajudar determinada pessoa por uma semana; isso resolve o problema de alimento ou de teto para esta pessoa durante uma semana.
Agora, se queremos que essa pessoa aprenda a pescar e fazer seu próprio alimento e a ter seu próprio teto, temos que ter consciência que só o conhecimento espiritual pode destruir nossas misérias para sempre. Esses demais atos satisfazem as necessidades de nossos semelhantes tão somente por um tempo.
De nossas ações sempre levamos algo de bom ou de ruim, alguém será beneficiado e alguém prejudicado. Podemos ajudar uma pessoa por um determinado tempo, mas, inocentemente, criando um vício nessa pessoa, induzindo ao comodismo.
Se quisermos ajudar de forma definitiva, demos o prato de comida, mas ensinemos a essa pessoa o caminho espiritual. Este é o verdadeiro fator de revolução da consciência pregado pela Gnose. Mesmo assim, sabendo dessas coisas, todos nós devemos agir de maneira incessante para produzir resultados continuamente para o bem ou para o mal.
Nunca devemos nos acomodar, não devemos agir com uma intenção velada ou expressa de obter alguma vantagem. Devemos simplesmente agir incessantemente para gerar resultados para o Cosmos, para a Grande Vida.
Esta ação que mencionamos é a ação reta, pois é disso que estamos falando, é isso que ensina o Karma Yoga. Isso nos remete a outra frase de Krishna ao seu discípulo Arjuna: ”Contempla-me Arjuna, se eu deixasse de agir um só instante o universo desapareceria! Nada tenho a ganhar na ação, eu sou o senhor único, então por que tenho que agir? Porque eu amo o mundo!”.
Também podemos nos inspirar em Krishna – que é o mesmo Cristo Cósmico.
Mesmo não precisando agir incessantemente em favor de nosso semelhante, devemos agir incessantemente em favor da grande vida, da grande lei por amor ao mundo. Ação contínua e permanente, porém ação reta.
O que vem a ser então ação reta? A ação reta é agir sem esperar ou buscar recompensas. A ação sem busca de recompensas é a única ação que não gera recorrências, nem positivas, nem negativas.
Desta forma, nos liberamos do Karma positivo ou negativo. Porque o Karma positivo também nos traz de volta a esse mundo. O ideal supremo é o de não gerar Karma, ir além do Karma. E podemos ir além do Karma agindo sem expectativas de recompensas. Pois isso é ação reta no seu mais elevado nível.
Porém, todos nós sabemos que, neste mundo de agora, o reto e o justo são apenas palavras vazias. Mas não queremos que essas palavras caiam no vazio com vocês. Por isso repetimos várias vezes, para que compreendam tudo isso. E mudemos nossa forma de viver.
Podemos colocar o Karma Yoga como um caminho, uma ciência do dever sagrado. Qualquer ação que nos aproxima de Deus é boa e representa nosso dever. E qualquer outra ação que nos afaste de Deus é má e não representa nosso dever.
Este é o dever sagrado, que vem ser a mesma ação reta e seu cumprimento. Devemos viver nossa vida normal, mas fazer nossas ações de maneira que nos aproximemos de Deus e não nos afastemos dele.
Isso vem a ser, em poucas palavras, a ação reta, que é um dos elementos da conduta reta.
Autor: Karl Bunn
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